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    sábado


    GARCIA (AVRAHAM) D' ORTA


    «A verdade se pinta nua.»

    Sábio naturalista e sagaz observador, Garcia d’Orta foi um dos precursores da ciência moderna, pioneiro da Medicina Tropical e da Farmacognosia. Nascido alentejano (Elvas?, Castelo de Vide? ou Vila Viçosa?) em data incerta (1499?), de uma família espanhola de ascendência judaica, frequentou as Universidades de Salamanca e Alcalá de Henares, onde Nebrija ensinou a primeira cadeira de Botânica da Península. Estudou Artes (Lógica, Matemática, Música e Línguas - grego e hebraico), Filosofia e Medicina, e foi provavelmente influenciado pela doutrina de Erasmo. Em 1526, já era médico ou físico de província em Castelo de Vide, foi-o depois do rei D. João III e concorreu várias vezes ao ensino universitário, tendo, por fim, em 1530, sido nomeado para reger as cadeiras de Filosofia Moral (para a qual foi eleito deputado lente em 1532) e Filosofia Natural na Universidade de Lisboa, escolha a que não deve ter sido alheia a influência do seu patrício alentejano e colega de estudos em Espanha, Pedro Nunes. Mas logo em 1534, talvez temendo os primeiros sinais repressivos da Inquisição, talvez ávido de reconhecer nova materia medica, in loco e de situ, parte para a Índia na nau, e ao serviço, do seu «amo e amigo», o capitão-mor Martim Afonso de Sousa a quem dedicou mais tarde os Colóquios.
    Por lá viveu mais de 30 anos, primeiro em Goa, como professor e médico (físico) do Hospital Real, depois em Bombaim, como foreiro da ilha, pacientemente recolhendo espécies para o seu horto e informações trazidas por viajantes e mareantes das mais variadas proveniências. Nos primeiros anos chegou a participar em campanhas militares e de reconhecimento, nomeadamente na fundação e construção da fortaleza de Diu e na conquista de Repelim. Os seus vários biógrafos diferem quanto ao facto de Orta ter enriquecendo como mercador de drogas e pedras preciosas. Foi contemporâneo, na Índia, de S. Francisco Xavier (que apelou a Loyola pela instalação da Inquisição em Goa) e Fernão Mendes Pinto. Em 1543, tomou parte na primeira autópsia realizada em Goa.
    Garcia d’Orta conheceu toda a costa ocidental da Índia, do Ceilão ao Gujarate, com várias incursões de estudo ao interior, algumas das quais como médico do sultão de Ahmadnagar, no Decão, o célebre Nizamaluco (Burham Nizam Sha). Manteve relações de colaboração e amizade com médicos e eruditos árabes, persas e hindus, e dedicou-se ao cultivo e estudo da flora tropical e de drogas vegetais e minerais asiáticas, então desconhecidas na Europa, cujas características e propriedades foi o primeiro a descrever minuciosamente, de uma forma científica. Este trabalho relevante e original teve como fruto a publicação da sua única obra, Colóquios dos Simples e Drogas e Cousas da Índia (1563), escrita sob a forma de um diálogo entre o Doutor Ruano e o Doutor Orta, o primeiro simbolizando o erudito, tradicionalista e aristotélico, como Orta ao chegar à Índia, enquanto o segundo representa o viajante e o observador, antiescolástico e experimentalista crítico, que aos textos contrapõe os factos. A riqueza e o interesse dos Colóquios devem muito à variedade de assuntos tratados que ultrapassam a medicina e a história natural, para tratarem também da vida social, da etnografia, da geografia, da etimologia e da antropologia, e até da culinária. Nas palavras de Luís de Pina, «pelas páginas dos Colóquios perpassam as mais diversas figuras e sucedem os mais curiosos casos: homens de todas as raças e grupos étnicos, dos Baneanes aos Negros, dos Chins aos Japões, aos malaios ou aos mestiços, Gregos e Romanos, Alemães e Franceses, Italianos e Espanhóis; Bispos, Reis e Vice-Reis; damas e cavaleiros; médicos e boticários…».
    Um dos grandes motivos de interesse da obra, numa época em que ainda não fora inventado o sistema binominal de nomeclatura botânica, foi fornecer os nomes para as matérias descritas no maior número de línguas que o autor foi conseguindo reunir, em valioso estudo comparativo da Medicina Oriental com a Medicina Ocidental.
    A Garcia d’Orta se deve, ainda, a primeira descrição exacta da cólera asiática feita por um médico, de algumas outras doenças exóticas e desconhecidos métodos terapêuticos.
    Já depois de morto, acusado de práticas judaizantes, foi julgado pela Inquisição e os seus ossos desenterrados e queimados, em 1580.


    in: Centro de Documentação de Autores Portugueses 06/2005

    Em Elvas existe uma avenida no Centro Histórico com o seu nome.
     


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